Ontem, 11 de fevereiro de 2020, foi comemorado o Dia da Internet Segura (do inglês, Safer Internet Day), uma iniciativa anual criada na Europa pela Rede Insafe e que já faz parte do calendário de mais de 140 países. Seu objetivo é simples: promover a conscientização do uso seguro, ético e responsável (mas ao mesmo tempo livre) da internet e das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs).[1]
Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais da metade da população mundial está conectada[2]. Não apenas as pessoas, mas as coisas também estão conectadas. Cada vez mais emerge o conceito de Internet das Coisas (IoT, em inglês), ao ponto que o ser humano passou a ser dependente da tecnologia. Compartilho abaixo as precisas palavras do renomado filósofo Mario Sérgio Cortella, em recente entrevista ao Portal UOL[3]:
"A ciência já provou que, se o ser humano desaparecer, os cães também desaparecem. A dependência deles conosco é tamanha que eles desaparecerão pela incapacidade de viver sem nós. Nós também estamos nos tornando dependentes de uma relação imediata de aplicativos tecnológicos. Hoje, se termina a energia elétrica, em um apagão, por exemplo, na cidade de São Paulo, ficamos incapazes de fazer 90% das coisas. A gente não come, não se movimenta, não se comunica? portanto, estamos ficando reféns e isso é perigoso."
De fato, a internet pode ser considerada um “bem essencial” da humanidade. As novas gerações nascem enraizadas na rede, com uma afinidade (sobre)natural para a tecnologia.
A internet faz parte do homem, e o homem faz parte da internet.
Não à toa, em 2019, ano de comemoração de 30 anos da World Wide Web (que não se confunde com a internet, mas à ela dá corpo), seu criador Tim Berners-Lee ressaltou a necessidade de construirmos uma internet cada vez melhor, de modo que “todos contribuam para uma web que impulsione a igualdade, a oportunidade e a criatividade”.[4]
A mente criativa por trás da rede mundial de computadores ainda destacou as grandes ameaças ao futuro da internet, dentre elas destacam-se: o assustador avanço dos crackers/hackers; a disseminação exponencial de fake news e clickbaits, e os ataques e agressões pelos meios digitais.[5]
Portanto, é inegável a necessidade de se construir uma internet segura. Entre tantas dicas, recomendações e workshops sobre o tema, deixo (em forma de analogia) a minha contribuição: adote um programa de compliance pessoal para o uso da internet.
Para tanto, eis algumas medidas a serem implementadas em seu programa:
- Faça um gerenciamento de risco sobre sua navegação na internet: formule e responda perguntas sobre seu próprio conhecimento em relação à internet. Busque investir nas suas vulnerabilidades, ou seja, em tudo aquilo que pode comprometer você ou terceiros. Utilização de uma rede social? E-mails? Internet banking? E-Commerce? Obtenha conhecimento e tenha consciência de suas condutas antes de acessar, curtir, comentar ou compartilhar.
- Use e abuse do due diligence: alguém (conhecido ou não) lhe enviou uma solicitação de amizade? Recebeu um e-mail com links ou lhe solicitando algum dado? Deseja compartilhar alguma notícia que lhe chamou a atenção? Procure colher o máximo de informações e atestar a veracidade antes do próximo clique.
- Crie um Código de Conduta (mesmo que mental) para seu acesso na web: empenhe-se em não fazer aquilo que você não faria offline. Você realmente tem que postar cada detalhe da sua rotina? Compartilhar (todos os) seus dados com qualquer aplicativo que os solicite? Fazer check-in em todo local que visitar? Lembre-se que quanto mais exposto na internet, mais vulnerável você estará. Do mesmo modo, você precisa compartilhar indiscriminadamente tudo que recebe no WhatsApp? Há necessidade de se envolver em toda discussão (sejam políticas ou não) nas redes sociais? Que tal estabelecer que só irá algum comentar uma matéria após sua integral leitura e compreensão? Enfim, elabore políticas e procedimentos sobre seu uso da rede.
- Mantenha sua comunicação ativa e efetiva: estamos na Era da Comunicação. Ao menos assim deveria ser. Ninguém é dono da verdade e todos sempre teremos algo a aprender. Compartilhe conhecimento, mas também busque-o! Antes de publicar ou compartilhar, que tal pedir um check de uma pessoa próxima? Na dúvida se deve clicar ou acessar, por que não perguntar a alguém pessoa que possa lhe orientar? Que tal “dar uma googlada” se não tiver certeza que a informação que você irá repassar está correta? Aproveite um dos maiores recursos que a internet pode lhe proporcionar: a comunicação.
- Realize auditoria sobre seu comportamento online: seja você mesmo seu próprio auditor, e permita que outros sejam auditores de suas ações na rede. Aceite críticas, descubra novos gaps, procure melhorar sua afinidade com a internet e novas tecnologias. Lembre-se: como todo programa de compliance, o processo é cíclico e contínuo, portanto busque sempre aperfeiçoá-lo.
- Comprometa-se em aprimorar seu uso na rede: esse é o primeiro pilar de qualquer programa de compliance, mas decidi deixa-lo como encerramento deste artigo. Nesse programa, você é a alta direção. Busque se comprometer ao máximo em contribuir para o desenvolvimento de um ambiente na rede cada vez melhor. Certamente você estará fazendo sua parte para construir e manter uma internet segura!
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[1] https://diadainternetsegura.org.br Acesso em: 12 fev. 2020.
[2] https://news.un.org/en/story/2018/12/1027991 Acesso em: 12 fev. 2020.
[3] https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2020/02/03/cortella-ser-humano-esta-caminhando-rapidamente-em-direcao-a-extincao.htm Acesso em: 12 fev. 2020.
[4] https://www.tecmundo.com.br/internet/139418-tim-berners-lee-fundador-web-diz-espera-proximos-anos-da-rede.htm Acesso em: 12 fev. 2020.
[5] https://www.bbc.com/portuguese/geral-47536362 Acesso em: 12 fev. 2020.